quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Livros - As esganadas

As esganadas
Autor: Jô Soares
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2011
Páginas: 264
ISBN: 9788535919752






"Ele observa com o olhar carregado de cobiça a gorda esparramada sobre a mesa. Os seios enormes pendem para os lados, e o ventre dilatado, coberto de estrias, transforma a realidade em devaneio. Os vapores do haxixe encharcado em formol aglutinam no seu cérebro as imagens daquela gorda puta nua às da sua mãe. Ela, também gorda, também nua, também puta. Puta gorda. Gorda puta. Gorda filha da puta. Caronte já sabe o que vai preparar." (p. 64)

"Ao ver o cadáver exposto na mesa do IML, Noronha concorda com o temeroso Calixto. Em vinte e cinco anos de polícia, nunca viu nada mais grotesco. Ninguém devia ser obrigado a passar por aquela experiência. Os maiores especialistas em filmes de terror teriam dificuldade em reproduzir a cena escabrosa que se descortina diante dele. Nem o aroma acre do charuto disfarça o cheiro inexprimível da morgue. É o cheiro da morte." (p. 69-70)


Eu não gosto do apresentador Jô Soares. Acho que ele é metido, quer provar, em toda entrevista, que é mais inteligente, mais culto do que o seu entrevistado, além de ter a péssima mania de ficar "conduzindo" os entrevistados nas respostas, tentando fazer com que eles respondam às perguntas exatamente da forma como ele quer e, quando isso não acontece, fica forçando a barra. Só perde mesmo para Faustão...

Já pelo Jô Soares autor eu me apaixonei assim que li seu primeiro livro, O xangô de Baker Street. Achei fantástico, com umas tiradas geniais, apesar de ter notado um pouco da mania de superioridade do autor na obra, com o excesso de eruditismo e a tendência a explicar algumas coisas que não precisam de explicação. Seu segundo livro, O homem que matou Getúlio Vargas, não conseguiu me conquistar e eu acabei abandonando a leitura e nunca mais tentei ler novamente. Com o terceiro, Assassinatos na Academia Brasileira de Letras, ele conseguiu se redimir, na minha opinião, mas mesmo assim algo me incomodou durante a leitura. Achei tudo muito parecido com o primeiro. Não no enredo, mas na estrutura, na fórmula. Foi como comer uma receita onde foram alterados apenas alguns ingredientes... Esse incômodo e a sensação de "Eu já li isso antes" só aumentou ao longo da leitura da sua última obra, As esganadas.

Mais uma vez, um assassino está à solta nas ruas do Rio de Janeiro. A época, dessa vez, é o Estado Novo e as vítimas do assassino, mulheres gordas. Ele as mata por asfixia, fazendo-as comer iguarias típicas da culinária portuguesa. O resto, bem o resto se repete... a mistura de personagens reais à ficção, a presença de um personagem estrangeiro para ajudar nas investigações, o excesso de eruditismo (totalmente desnecessário - mania de querer ser mais inteligente que todos, lembram?), uma grande pitada de humor, um anão, um assassino perturbado - que culpa a mãe por ser quem é -, uma ópera...

Eu estava curiosa para ler o livro, principalmente depois de toda a propaganda e todo o suspense em torno do seu lançamento. Não me atrevo a chegar a dizer que foi uma decepção, mas se trata, a meu ver, apenas de um livro bom, com uma fórmula desgastada e repetitiva. Mas uma coisa eu me atrevo a dizer: se o livro tivesse sido escrito por outra pessoa, certamente estaria se acumulando nas prateleiras das livrarias por todo o país!!

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