quinta-feira, 8 de março de 2012

Desafio literário - março - livro 2

O hipnotista
Autor: Lars Kepler
Editora: Intrínseca
Ano: 2011
Páginas: 480
ISBN: 9788580570915
Tradução: Alexandre Martins





"O garoto deve ter percebido muito pequeno que não era como as outras crianças. Joona pensa na solidão infinita de um garoto rejeitado pela mãe.  Uma pessoa que foi a favorita inquestionável da mãe mantém por toda a vida a sensação de ser uma conquistadora, mas o contrário resulta não apenas na ausência dessa sensação, mas na presença de uma escuridão ativa. A única que deu amor e cuidados a Josef foi Evelyn, e ele não podia suportar ser rejeitado por ela." (pág. 141)

"'O passado não está morto, não é sequer passado', eu dizia com frequência, citando William Faulkner. Queria dizer que todas as pequenas coisas que acontecem às pessoas permanecem com elas por toda a vida. As experiências influenciam cada uma de nossas escolhas. No caso de experiências traumáticas, o passado ocupa quase todo o espaço disponível no presente." (págs. 299/300)

Lars Kepler na verdade é o pseudônimo do casal Alexandra Coelho Ahndoril e Alexander Ahndoril. E essa foi a primeira coisa que me chamou atenção: uma obra escrita a 4 mãos. Tudo bem que eles são um casal, se conhecem, tem afinidade e tudo mais, mas eles não pensam igual em absolutamente tudo. Então fico imaginando como foi a experiência de escreverem juntos um livro. 

A história começa quando toda uma família é assassinada de forma brutal. O filho de 15 anos escapa por pouco, e passa a ser a chave para a polícia descobrir quem é o assassino. Só que o garoto está em estado grave, internado no hospital e o detetive Joona Linna pede a ajuda do médico e hipnotista Erik Maria Bark. Só que Erik havia feito uma promessa de nunca mais hipnotizar ninguém e ele nem imagina as consequências de quebrar essa promessa...

Esse é o ponto de partida da trama. Isso mesmo, apenas o ponto de partida. Não vá pensando que o assassinato da família Ek é o ponto central da trama. Ledo engano. Ao usar a hipnose novamente, quebrando a sua promessa, Erik dá início a uma série de acontecimentos, que são narrados em histórias paralelas, mas que estão todos, de alguma forma, relacionados. 

Os capítulos do livro são curtos. São 110 no total. Adoro livros com capítulos curtos, pois geralmente significa que a trama tem várias histórias paralelas, vários personagens, o que dá mais dinamismo à leitura e a torna mais interessante.

A narrativa do autor é densa, tensa, pesada. É um livro complexo e perturbador que, em determinados momentos, requer mais "estômago" do leitor. AS descrições são fortes, detalhadas, há sangue jorrando por todos os lados. As cenas de sexo também são ricas em detalhes, sem eufemismos. O autor (ou os autores) diz o que tem que dizer e pronto, sem se valer de metáforas e analogias.

Os personagens também são bastante complexos. Erik Maria Bark - o hipnotista - é extremamente complicado. Um estudioso da mente humana que não consegue entender a sua própria mente. Viciado em remédios, já traiu a esposa e cometeu diversos erros no passado, ele é um típico exemplo de "faça o que eu digo mas não faça o que eu faço". É um personagem forte e bastante marcante. Daqueles que a gente sofre, chora, ri e se emociona junto com ele. 

O detetive Joona Linna também não fica atrás. Cheio de charme e um tanto arrogante, ele está sempre certo e vive se gabando disso. Uma mente brilhante, essencial para entender o desenrolar dos acontecimentos e ligá-los uns aos outros. Outro personagem do qual também gostei bastante. Simone, a esposa de Erik, não me convenceu no início da trama, mas à medida que sua participação foi crescendo mais, fui passando a gostar um pouquinho mais dela. Não é das minhas favoritas, mas está longe de ser das piores.

Para não dizer que o livro é perfeito, tenho apenas uma crítica a fazer: o final. Não o desfecho da trama, que é brilhantemente construído, mas o finalzinho mesmo, as últimas páginas. Achei que houve um certo excesso por parte do autor. (Spoiler) Achei a parte em que o ônibus cai no gelo e Erik e o filho quase morrem afogados totalmente desnecessária. Poxa, o cara já tinha levado um tiro, precisava ainda quase se afogar?

Vi muitas comparações desse livro à trilogia Millenium - que eu adoro - , também escrita por um sueco. Se Lars Kepler é o novo Stieg Larson ou se o livro só prova que a Suécia tem grandes escritores eu não sei, só sei que é muito bom, bem escrito e que vale a pena ser lido.

Nota: 5

1 comentários:

Vivi disse...

Rafaela, queridaça, enviamos um email a você. Aguardamos o seu retorno. Um grande abraço!

Vivi
Equipe DL 2012

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