quarta-feira, 18 de abril de 2012

Das páginas para as telas #5

Precisamos falar sobre o Kevin
Autora: Lionel Shriver
Editora: Intrínseca
Ano: 2012
Páginas: 464
ISBN: 9788580571509
Tradução: Beth Vieira e Vera Ribeiro



"Desculpe, mas você não pode esperar que eu evite o assunto. Posso não saber como chamar aquilo, aquela quinta-feira: atrocidade parece coisa tirada de jornal, incidente é minimizar de forma escandalosa, quase obscena, o que houve, e o dia em que nosso filho cometeu assassinato em massa é comprido demais para cada menção que eu fizer, certo? E eu vou fazer. Acordo com isso na cabeça todas as manhãs e durmo com isso todas as noites. É meu parco substituto para meu marido." (pág. 22/23)

"Quando parei de me revirar para pôr o casaco, ele disse: 'você pode enganar os vizinhos, os guardas, Jesus e sua mãe gagá com essas visitas de mae boazinha, mas a mim você não engana. Continue com isso, se quer uma estrela dourada. Mas não precisa arrastar a bunda até aqui por minha causa.' Depois acrescentou: 'Porque eu odeio você.'
Sei que filhos dizem isso a todo momento, nos acessos de raiva: Eu odeio você, eu odeio você!, olhos espremidos tentando conter as lágrimas. Mas Kevin está com quase dezoito anos e não falou isso com raiva." (pág. 58)

Eu poderia continuar com as citações até amanhã de manhã, mas não é essa a minha intenção. A minha intenção é dizer que esse livro é muito bom, a história é incrível, é uma verdadeira aula de psicologia, é chocante, é intensa, é frustrante, é de dar raiva, é sincera, é comovente, é transparente... é muitas coisas. Mas também não é perfeita, é verdade.

O livro entrou para a minha lista dos favoritos, estando brigando pelas primeiras posições dos livros lidos este ano. Porém, antes de falar do que eu gostei, vou falar logo do que me incomodou. Em muitas passagens, achei a narrativa da autora confusa. A personagem/mãe mistura muito os assuntos, fala de tudo ao mesmo tempo, se enrola as vezes com suas palavras. Mas, mesmo não tendo gostado muito disso, não consigo deixar de pensar que essa era justamente a intenção da autora, para poder exatamente mostrar a confusão mental instalada na vida de Eva e a sinceridade de seus sentimentos.

Isso porque o livro é todo em forma de cartas mas, para mim, mais se parece um diário. E quem não é sincera ao escrever em seu próprio diário? As cartas destinadas ao ex marido são, a meu ver, apenas uma forma de ela conseguir colocar para fora tudo aquilo que a sufoca, e é natural que essa explosão de sentimentos acabe por não obedecer uma linha de raciocínio muito coerente.

O que chama atenção na trama é que ambos, mãe e filho, são personagens bastante complexos e muito bem construídos. A relação de amor e de ódio que nasce entre eles desde o momento da concepção até o final da narrativa é incrível. Para deixar qualquer psicólogo de cabelo em pé!!! Uma obra onde o desenvolver dos acontecimentos é o menos importante, onde toda a mágica das palavras está no interior dos personagens.

Se a sua intenção é apenas ler sobre um garoto que promove um massacre em uma escola americana, talvez esse não seja o livro indicado para você. Mas se você quer ler uma obra que vai mexer com você da primeira à última página, que vai você se perguntar "por que?" inúmeras vezes, que vai fazer você sentir raiva do pai de Kevin, pena da mãe dele e ficar sem saber como se sentir com relação a ele, dentre outras coisas, então aceite o desafio e leia esse livro. Será uma experiência incrível, da qual você não irá se arrepender!!!


Precisamos falar sobre o Kevin (We need to talk about Kevin)
Ano: 2012
Gênero: Drama, suspense
Direção: Linne Ramsay
Roteiro: Linne Ramsay
Elenco: Tilda Swinton, John C. Reily, Ezra Miller, Siobham Fallon.




Esse é um daqueles casos em que é impossível decidir qual o melhor, o livro ou o filme, de tão bons que ambos são. Apesar de a história ser a mesma, a forma como ele é contada nas duas obras é tão diferente que não dá para comparar, que não dá para traçar um paralelo.

o filme é quase uma inserção na mente de Eva. Nós a vemos no presente, em sua vida pós massacre, ao mesmo tempo em que compartilhamos as suas memórias de uma série de eventos que, na opinião dela, levaram ao trágico desfecho de sua vida. Uma coisa que eu acho fantástica em ambas as obras é o quão bem desenvolvido é o personagem Kevin, principalmente se levarmos em consideração que nós apenas o vemos pelos olhos de sua mãe. Olhos que nem sempre sabem ser imparciais, mas que nos dão uma visão melhor sore Kevin do que talvez o próprio Kevin nos daria.

O elenco do filme é fantástico. O ator Ezra Mller, de quem eu me lembro apenas do seriado Californication está incrível no papel do jovem. Sobre Tilda Swinton eu, sinceramente, não sei nem o que dizer, pois acho que as palavras que eu conheço não são suficientes para expressar a forma como ela se entregou à personagem, a forma como ela deu vida à uma mulher cuja vida foi tão drasticamente modificada...

E essa coisa de entrega, de sinceridade, de realidade é o que mais me chamou a atenção no longa. Os diálogos, a relação conturbada entre mãe e filho, a maldade no olhar e nas atitudes de Kevin. É um daqueles filmes que mostra que a maldade pode existir dentro de qualquer pessoa, e que monstros não são necessariamente seres de aparência horripilante...

Como eu disse, duas formas diferentes de contar a mesma história, ambas excelentes e impossível de dizer qual a melhor. Não importa a que você escolha, mas não deixe de saber um pouco mais sore o Kevin...

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