Eu já disse antes aqui no blog que virei fã do escritor Ivan Sant'Anna ao ler Caixa Preta. Agora, com a leitura de Perda total, eu virei mais fã ainda, se é que isso é possível...
Isso porque os desastres narrados em Caixa Preta ocorreram há mais tempo e eu não os vivenciei, diferentemente do que aconteceu com os três desastres aéreos descritos em Perda total, cujas notícias eu acompanhei diretamente, por terem ocorrido há menos tempo. O primeiro deles foi o do avião da TAM que caiu no bairro de Jabaquara, em São Paulo, 24 segundos após a decolagem, em 31 de outubro de 1996. O segundo foi o do avião da Gol que caiu na selva amazônica após se chocar com um Legacy, em 2006. E o terceiro o do avião da TAM que não conseguiu frear e acabou se chocando com o prédio da TAM Express após pousar no aeroporto de Congonhas, em 2007.
O livro é muito bem escrito e muito bem narrado. Representa um trabalho de pesquisa primoroso do autor, além de ser bastante revelador e rico em detalhes. É claro que eu compartilho a dor e o sofrimento dos parentes e amigos das vítimas, mas, no caso dos livros de Ivan Sant'Anna, o que os torna muito bom não é o conteúdo propriamente dito - isso porque são histórias tristes e, especialmente, reais -, mas sim a forma como esse conteúdo é passado pelo autor aos leitores.
E ele não se restringe aos acidentes acima referidos. Durante a sua narrativa, ele faz um passeio por toda a história da aviação do último século trazendo, ainda que superficialmente, informações sobre outros acidentes e casos. O linguajar técnico e próprio da área não é um problema durante a leitura, pois todos os termos são bem explicados e as frases em inglês devidamente traduzidas, para aqueles que não tem o conhecimento do idioma.
Ele foca a narrativa, além de nos fatos propriamente ditos, na vida e nos momentos finais de algumas das vítimas, tanto passageiros quanto vítimas terrestres e tripulantes, transformando-os em personagens da obra. Mas faz isso com o devido respeito e sem ferir a memória de ninguém.
Ademais, o autor não está preocupado em apontar culpados. Ele expõe os fatos, tais quais ocorreram, e deixa que o leitor tire as suas próprias conclusões. Até mesmo em seus capítulos intitulados Conclusões, ele se refere a "uma cadeia de erros" ou "uma série de eventos danosos", sem ficar apontando o dedo para A, B ou C, especificamente.
Não é fácil escrever sobre o tema, por ter causado tanta dor e sofrimento a tantas pessoas, mas Ivan Sant'Anna consegue fazer isso como ninguém...
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